Mesmo com aumento do risco no cenário internacional, Copom deve manter ritmo no corte dos juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima terça, 31, e quarta-feira, 1º, para definir o rumo da taxa básica de juros.

Por Joel Cirilo Barakah em 29/10/2023 às 18:20:36
Foto: Reprodução internet

Foto: Reprodução internet

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne na próxima terça, 31, e quarta-feira, 1º, para definir o rumo da taxa básica de juros. No último encontro, o colegiado optou pela segunda redução seguida de 0,5 ponto percentual da Selic, após um período sete manutenções consecutivas. Representantes da autoridade monetária declararam que órgão deve manter o ritmo de cortes nas próximas reuniões. Contudo, o conflito bélico entre Israel e Hamas, iniciado em 7 de outubro, gerou um clima de incerteza, principalmente em relação aos impactos econômicos que um escalonamento do embate pode gerar em todo o mundo. Especialistas consideram que o cenário aumenta a possibilidade de que o Banco Central diminuía o ritmo de cortes na taxa básica de juros pela deterioração do cenário internacional. Contudo, analistas consultados pela Jovem Pan preveem que a autoridade monetária brasileira mantenha a trajetória da redução da Selic para não comprometer os benefícios do aperto monetário realizado até recentemente.

Essa é a aposta de Bruna Rizzolo, consultora de Economia da BMJ Consultores Associados. Ela pondera que a decisão de manter o nível de cortes deve se basear na perspectiva de inflação para 2023, que atualmente encontra-se abaixo do teto da meta e na redução observada na atividade econômica em agosto. “Ademais, o novo corte também deve levar em consideração o avanço da pauta econômica no Congresso e a busca pelo déficit zero pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Em relação aos conflitos internacionais no momento, existem duas preocupações. A primeira é o aumento no preço do petróleo, tendo em vista a participação do Oriente Médio na produção do insumo. Uma possível expansão do conflito para os demais países da região tende a reduzir a oferta do bem, elevando seu preço internacional e resultando em altas nas inflações domésticas. A segunda é a consequência do prolongamento do conflito na política monetária dos Estados Unidos”, indica.

Rizzolo esclarece que um possível aumento dos gastos fiscais do governo norte-americano para apoiar Israel pode pressionar o Federal Reserve, Banco Central do país, a manter sua taxa de juros elevada por mais tempo, ou até mesmo realizar novos aumentos. “Maiores juros nos Estados Unidos podem resultar na fuga de capitais de países em desenvolvimento, o que poderia pressionar a inflação brasileira, ao desvalorizar a moeda nacional e levar à revisão da atual política monetária do Copom para uma redução de menor magnitude nas próximas reuniões do grupo”, observa.

O economista-chefe da Constância Investimentos, Alexandre Lohmann, também considera que o Copom deve manter o ritmo de cortes. “Desde a última reunião, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos limitou o espaço para um corte maior (de 0,75%). O Copom preferiu adotar uma postura cautelosa para evitar que uma redução rápida do diferencial de juros resultasse em uma desvalorização excessiva da moeda. O comportamento estável do câmbio desde a última reunião e o desempenho benigno da inflação corrente — com previsão do IPCA 2024/2025 ainda ao redor da meta — não requere uma redução ritmo de corte enquanto a Selic permanecer acima de 10%. Acreditamos que o Copom deve manter o ritmo de corte nas próximas reuniões”, avalia.

Principais preocupações e riscos

Lohmann ainda aponta a decisão do governo de, já na primeira reunião de 2023, substituir os dois diretores com tendências mais “hawkish” [a favor do combate à inflação por meio do aumento dos juros]. Com isso, a gestão de Lula assegurou uma maioria de diretores alinhados com a política do governo e contribuindo para a manutenção do ritmo de corte no início do ano. O analista pontua ainda que, em relação ao conflito no Oriente Médio, existe um risco de aumento da inflação via preços da energia. Contudo, este risco ainda é limitado agora.

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, complementa que a principal preocupação é o possível impacto da extensão das questões geopolíticas para o campo da economia via preço do barril de petróleo, o que automaticamente afetaria a inflação de combustíveis e energia. Ele avalia que isso comprometeria os benefícios do aperto monetário feito até aqui e possivelmente demandando juros elevados por mais tempo. “Apesar da turbulência no mercado internacional atualmente, vemos que a trajetória recente da inflação proporcionam ambiente propício para manutenção do atual patamar de cortes. A inflação vem dando sólidos sinais de arrefecimento especialmente em seus componentes efetivamente sensíveis à política monetária, assim como a melhora das expectativas dos agentes de mercado e o arrefecimento da atividade econômica, que melhora a perspectiva da trajetória de inflação futura”, considera.

Ele afirma que, apesar de não ser um impeditivo para manutenção da redução da Selic, o cenário externo se mostra adverso o suficiente para evitar o aumento da magnitude dos cortes praticados daqui em diante. “Especialmente por conta dos possíveis efeitos de uma fuga de capitais do país e os efeitos negativos que isto pode ter sobre a dinâmica da inflação doméstica. Não enxergamos espaço também para redução no ritmo de cortes, uma vez que, além de não afetar o processo de desinflação por conta da defasagem da política monetária, pode acabar provocando um desaquecimento mais intenso que o desejado da atividade econômica”, pondera Pizzani.

Perspectivas para o comunicado e próximos encontros

Economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung estima que, em relação à reunião de setembro, a expectativa é de que não haja grandes alterações no comunicado. “O cenário doméstico não alterou de forma relevante nos últimos meses. Por exemplo, a atividade econômica continua dando sinais de desaceleração como o esperado pelo Banco Central. Além disso, o mercado de crédito segue arrefecendo, e a inflação segue benigna. O principal ponto de atenção da autoridade monetária é a trajetória da inflação. A boa notícia é que os últimos dados mostram preços mais controlados. O IPCA-15 divulgado na semana passada corrobora essa visão. O índice registrou uma alta de 0,21% em outubro, dentro das expectativas do mercado. Nos últimos 12 meses, ele acumula uma alta de 5,05%, levemente acima dos 5% registrados em setembro deste ano. Para o segundo semestre, a inflação tende arrefecer e terminar o ano dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)”, explica.

Contudo, o analista pontua que as incertezas no cenário externo e o risco fiscal brasileiro deverão ser enfatizados pelo Comitê, com ênfase na taxa de juros dos EUA e os conflitos no Oriente Médio. “Entre setembro e outubro, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou em palestras e entrevistas a importância de se buscar a meta fiscal de 2024 e não a abandonar. Um compromisso do governo e dos parlamentares poderá melhorar as expectativas sobre a economia e facilitar o trabalho do Copom. Além disso, os conflitos que o mundo observa hoje — no Oriente Média e na Ucrânia — podem manter os preços do barril de petróleo e de outras commodities em níveis elevados por mais tempo, o que tenderia a exercer pressões inflacionárias e dificultar o trabalho dos Bancos Centrais pelo mundo. Esse cenário forçaria as autoridades a manterem as taxas de juros elevadas por mais tempo”, indica.

O economista considera que, mesmo com as incertezas citadas acima, há espaço para queda da taxa Selic dado o cenário inflacionário brasileiro positivo. Ele estima que na próxima reunião haja um corte na taxa de juros de 0,50 ponto percentual, levando a Selic para 12,25% ao ano. Para 2023, a projeção para a taxa terminal da Selic é de 11,75% a.a. Já para 2024, a expectativa é que os juros terminem o ano em 9,75% a.a.

 

Fonte: JP

Comunicar erro

Comentários