Por que o bloqueio do Telegram pode atrapalhar o contato de Bolsonaro com apoiadores fiéis?

Por Joel Cirilo Barakah em 18/03/2022 às 19:00:38
Presidente, filhos e ministros criaram canais no app no início de 2021. Desde então, Bolsonaro incentiva 'migração' para o Telegram – onde, segundo ele, 'não tem censura'. O bloqueio do aplicativo de mensagens Telegram em todo o território nacional, determinado nesta sexta-feira (18), pode dificultar a comunicação do presidente Jair Bolsonaro e de lideranças bolsonaristas com os apoiadores mais fiéis do governo.

Desde 2021, Bolsonaro, seus filhos, ministros e assessores vêm utilizando o Telegram para divulgar conteúdo. O grupo considera que a rede é "livre de censura" e, por isso, utiliza a plataforma para disseminar textos e vídeos com desinformação que poderia ser barrada em outras plataformas.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a suspensão do funcionamento do Telegram em todo o país. A ordem atende a um pedido da Polícia Federal, que apontou o descumprimento de várias ordens judiciais pela plataforma. Veja abaixo:

Alexandre de Moraes manda bloquear o Telegram em todo Brasil

Bolsonaro passou a utilizar o Telegram para a divulgação das ações de governo em janeiro de 2021, pouco depois de o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ser bloqueado em outras redes sociais.

Atualmente, o "canal oficial" de Jair Bolsonaro no Telegram tem mais de um milhão de seguidores. Com frequência, o presidente pede a seus apoiadores que o acompanhem pelo aplicativo – no Twitter, já foram 22 publicações nesse sentido desde o começo do ano.

Na mais recente, publicada na manhã desta sexta, o presidente afirma que o canal criado por ele no Telegram “traz todos os dias muitas ações de interesse nacional, lamentavelmente omitidas por muitos”.

Em 22 de fevereiro, por exemplo, Bolsonaro criticou em duas publicações no Telegram a decisão da Justiça da Colômbia de descriminalizar o aborto até a 24ª semana de gestação.

"Todos nós já nos emocionamos com a história de bebês prematuros que superaram as dificuldades e se tornaram a alegria de seus lares”, escreveu na legenda de uma foto. Os conteúdos alcançaram mais de 200 mil usuários. Somadas, as duas postagens receberam 1.660 comentários.

O podcast original g1 O Assunto abordou, em outubro, o funcionamento do Telegram e o comportamento de Bolsonaro e apoiadores no aplicativo. Ouça no player abaixo:

Rede 'sem censura', diz Bolsonaro

Em 7 de outubro, durante transmissão ao vivo em redes sociais, Bolsonaro também recomendou a adesão ao Telegram – onde, segundo ele, "não tem censura".

“Agora, logicamente que nós ampliamos a nossa rede para o Telegram. Não tem censura. E tem que ser assim. Se você hoje em dia posta uma matéria com uma suspeita de vacina, você é taxado de 'terraplanista', propagador de fake news. Pessoal, o Telegram é uma alternativa. Caso contrário, pode acontecer no Brasil o que aconteceu nos Estados Unidos, onde derrubaram as páginas das mídias sociais do presidente Trump”, afirmou Bolsonaro.

No vídeo, Bolsonaro mostrou uma reportagem que alertava para os perigos do uso sem controle das ferramentas do Telegram. O presidente defendeu a rede social.

"'Telegram: nova ameaça digital às eleições'. O que que estão alegando aqui... olha só aqui, que maldade. Porque com o Telegram não dá para você censurar, tirar a página do ar, não dá. Então, eles estão dizendo que como não se pode fazer isso, o Telegram ameaça as eleições", disse Bolsonaro.

Além de Bolsonaro, os três filhos políticos do presidente, Flávio, Carlos e Eduardo, têm perfil na plataforma. Ministros de Estado como João Roma, da Cidadania; Gilson Machado, do Turismo, também têm perfil na rede.

Após a determinação de bloqueio, o ministro João Roma fez uma postagem no aplicativo convidando os seguidores a migrarem para um grupo no WhatsApp. "Se vão bloquear o Telegram vamos nos reunir no Grupo do Zap. Entra no link abaixo para receber as informações do nosso mandato", diz o aviso.

Veja, no vídeo abaixo, reportagem do Fantástico sobre criminosos que aproveitam a política do Telegram para compartilhar conteúdos ilegais:

Grupos no Telegram abrigam negociações de drogas, armas, pornografia infantil

Bloqueios em outras redes

Tanto Donald Trump como Jair Bolsonaro já tiveram conteúdos removidos das principais redes sociais por violação das regras de uso. Via de regra, as medidas foram definidas como punição pela divulgação de notícias falsas e conteúdos considerados "abusivos".

Trump teve contas oficiais suspensas no Facebook, no Instagram e no Twitter – essa última, de forma permanente.

Em outubro passado, Bolsonaro teve seu canal no YouTube suspenso por uma semana após uma transmissão na qual associou as vacinas contra Covid e um suposto risco aumentado de desenvolver Aids. Essa relação não existe.

Bolsonaro foi proibido de postar novos conteúdos na plataforma por uma semana, por ter violado as diretrizes da plataforma. O caso motivou a abertura de inquérito no STF – a Polícia Federal investiga a conduta do presidente no episódio. Veja abaixo:

Moraes abre inquérito para investigar Bolsonaro por associar vacinas contra Covid à Aids

Bolsonaro no Telegram

O canal de Jair Bolsonaro no Telegram foi criado no dia 9 de janeiro de 2021, na esteira do anúncio dos bloqueios dos perfis do então presidente dos Estados Unidos Donald Trump em três redes sociais: Twitter, Facebook e Instagram.

Em uma das primeiras publicações, o presidente questiona "onde está o dinheiro" repassado pelo governo federal para a compra de equipamentos e respiradores durante a pandemia da Covid-19.

A retórica é a mesma que foi utilizada por aliados do Planalto na CPI da Covid no Senado. Mais tarde, Bolsonaro e esses aliados viriam a constar no relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que recomendou o indiciamento de membros do governo e assessores por crimes contra a saúde pública.

Telegram e as eleições

Antes do bloqueio pelo STF, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia cobrado o Telegram a participar de parceria para combater fake news nas eleições deste ano. O aplicativo não respondeu.

Em fevereiro, o TSE fechou parceria com oito de dez plataformas digitais acionadas para o acordo contra as notícias falsas. O Telegram foi único a não responder. A parceria prevê a identificação e remoção de conteúdo que viole regras.

As plataformas digitais: Twitter, TikTok, Facebook, WhatsApp, Google, Instagram, YouTube e Kwai concordaram em trabalhar junto com o TSE no combate às fake news.

*estagiário, sob supervisão de Mateus Rodrigues

Fonte: G1

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